13 de abril de 2012

Colóquio Internacional Narrativas do Poder Feminino

Com o objetivo de promover e estimular uma reflexão crítica sobre a permanência de figuras, valores e perspetivas da Antiguidade Clássica na Literatura e na Cultura Ocidentais, o Centro de Estudos Filosóficos e Humanísticos da Faculdade de Filosofia da Universidade Católica Portuguesa, em Braga, através da sua Linha de Investigação Estudos Literários e Culturais, Projecto 3 - "Matrizes Clássicas - da Antiguidade à Modernidade", está a organizar um Colóquio Internacional, subordinado ao tema «Narrativas do Poder Feminino».

O Colóquio, a realizar-se nos dias 26 e 27 de abril de 2012, nas instalações da Faculdade de Filosofia de Braga, pretende abordar, a partir da conjugação de vários campos de investigação (Estudos Clássicos, Estudos Literários, Psicologia e Sociologia e Estudos Artísticos, Culturais e Históricos), unidos pela necessidade de manter vivo o legado de uma etapa da história da humanidade centrada na figura humana em todas as suas dimensões, a temática da relação da mulher com o poder, do modo como foi interpretada e narrada na Antiguidade e das suas reinterpretações posteriores.

Desde a Antiguidade que a relação entre a mulher e o poder foi pautada por bastante ambiguidade. Cedo existiu uma associação correlativa do poder à força física, apanágio do género masculino. A fragilidade feminina, aumentada pela sua alegada instabilidade emocional, tornava-a inadequada para o exercício de qualquer poder aos olhos de sociedades eminentemente guerreiras. Ainda assim, uma mulher como Helena foi poderosa a ponto de causar a guerra mítica que marcou toda a tradição clássica e escapar incólume; e nessa epopeia várias mulheres mostraram o quanto podiam influenciar o homem, havendo até aves rarae, como as Amazonas, que usurpavam os domínios masculinos da guerra e do trono.

A Grécia Clássica olhará com estranheza e receio criaturas como as Bacantes, que o álcool transformava em animais selvagens, e as Bárbaras, detentoras de artes mágicas e paixões incontroláveis. Mulheres como a mítica Medeia e a inquietante rainha Olímpia eram a prova do que sucedia quando se dava rédea solta a um ser escravo das paixões. Apesar de existirem grandes mulheres como Aspásia por detrás de grandes homens como Péricles, a reação foi remeter a mulher livre para o recato do lar, impedindo o seu acesso à vida política e controlando os seus bens e vida privada através de tutores. Tal exemplo, em parte seguido numa Roma assustada pelas orientais Cleópatra e Zenóbia, será projetado para a posteridade e associado ao modelo semítico na herança judaico-cristã.

Passados longos séculos em que o desenvolvimento das ideias, da ciência e da sociedade ocidental levou ao debate em torno das capacidades e direitos femininos, as marcas do passado cristalizado no legado clássico continuam visíveis.

Não só as personagens da Antiguidade persistem no nosso imaginário, inspirando novas interpretações artísticas e científicas, como a ideia da supremacia masculina domina todos os níveis da realidade, refletindo-se na própria linguagem e sendo assumida pelas mulheres, mais ou menos conscientemente. É assim que sempre que uma mulher assume o poder se vê confrontada com os estereótipos eminentemente masculinos.

Mas o poder feminino exerce-se também noutros âmbitos, da família ao espaço laboral e público em que ela cada vez mais imerge, quer por necessidades financeiras, quer para se realizar como ser humano. Novos desafios, de algum modo já visíveis no passado, resultam da "vida dupla" que a sociedade contemporânea exige à mulher, sem lhe dar quase nada em troca: mãe e companheira do homem num mundo muito complexo e veloz, ela é também obrigada a assumir, na sua vida profissional, uma competência e intensidade padronizadas de acordo com o masculino. Para vencer, deve ser como um homem, mas será condenada socialmente se perder a dimensão feminina.

Existe uma forma feminina de exercer o Poder? É essencial ser poderosa de algum modo para ser bem sucedida? Em que medida continuam presentes as marcas da Antiguidade Clássica?
O Colóquio Internacional "Narrativas do Poder Feminino" pretende debater estas e outras questões de modo a partilhar, de forma interdisciplinar, as experiências e estudos que várias áreas do saber têm desenvolvido sobre este tema de tão grande actualidade.

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